Marina, uma haitiana de tirar o fôlego

O dia em que os produtores de moda descobrirem a haitiana Marina Mathieu, ela certamente terá de mudar de ideia quanto a seu desejo de terminar o curso de Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). De rara beleza ampliada pelo jeito simples, olhos repuxados e covinhas que adornam o largo sorriso, Marina chegou ao Rio em fevereiro para dar continuidade ao curso iniciado no Canadá. Aos 21 anos, ela planeja aprofundar os estudos em Sexologia, não pelo lado erótico, mas pelo víeis da denúncia à discriminação contra mulheres, homossexuais e travestis.

Com um charmoso sotaque que mescla seu conhecimento dos idiomas francês, inglês, creole, espanhol e o português ainda incipiente, a caçula Marina nasceu em Porto Príncipe, onde morava com os pais, ele agrônomo e ela engenheira e psicóloga, e um casal de irmãos. Durante o terremoto, em 2010, foi para a casa da avó e de lá seguiu para o Canadá, onde viveu por cinco anos. A irmã Fedora, igualmente bela e viajada, passou as férias de 2012 no Rio de Janeiro e lhe recomendou a cidade.

“Sou uma menina de praia. Gosto de dançar, de cantar e de ter a praia por perto”, se define. Quando chegou ao Rio foi parar em um hostel em Botafogo, na zona Sul, por indicação de uns conhecidos da irmã. É verdade que houve uma certa decepção, porque ela havia idealizado um ambiente cheio de casas, como no Haiti, e encontrou essa quantidade de edifícios. “Não sabia que o Rio é mais caro para morar que o Canadá”, compara, embora reconheça que as frutas aqui são mais baratas.

Na verdade, antes de vir ao Rio ela passou uns tempos no Equador, onde encontrou melhores possibilidades, como água potável e um sistema eficiente de transportes, em ambiente não tão rico quanto o do Canadá e não tão pobre como e de seu país. E muitas praias.

O intercâmbio na UFRJ já estava previamente organizado e a vida toma um rumo dentro da previsibilidade. “Aqui não é pobre como o Haiti, mas, como lá, as pessoas gostam de viver e me ajudam muito na faculdade.” Já participou de umas atividades na radio e na Escola Municipal Haiti para o projeto Haiti Aqui, no Viva Rio.

Quando cursava a faculdade de Comunicação no Canadá optou por produção, de olho em televisão. Não demorou, porém, a perceber que o ramo não lhe levaria aos lugares que pretendia e logo se interessou por jornalismo quando chegou à UFRJ. E ao contrário do Canadá, onde existe graduação universitária em Sexologia, Marina imagina seguir no jornalismo e se especializar.

Por enquanto, namorado brasileiro, nem pensar. “Todos dizem as mesmas coisas”, descarta, o que concentra sua energia nos estudos, na malhação – “faço yoga para centrar a mente e exercícios como o trekking” – e na paixão pela culinária, seja por cozinhar ou comer. No Brasil, se encantou pelo açaí, a feijoada e a caipirinha de maracujá. “Tenho que malhar muito, porque adoro comer”, diz, embora o perfil long.

Texto: Celina Côrtes