Marie Florence quer fazer a diferença
Se não fosse pelas saudades da família, Marie Florence Thélusma, 26 anos, poderia dizer que está plenamente feliz no Brasil. Obstinada, ela realiza na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, o sonho de estudar Ciências Econômicas. De quebra, ainda vai fazer um curso complementar, na mesma faculdade, de Empreendedorismo e Inovação, “para ajudar meu país”, planeja.
Quando saiu de Porto Príncipe, na casa onde morava com os pais e os oito irmãos, já tinha começado o cursinho preparatório para a faculdade. Ela concluiu o ensino médio em 2008 e quando ao se preparar para a próxima etapa, soube por um primo de um intercâmbio no Brasil. “Sempre quis estudar fora, como fizeram minhas irmãs”.
Antes do terremoto, no final de 2009, ela já tinha começado a cuidar da documentação. Quando o trágico acidente se abateu sobre Porto Príncipe ela estava no terraço de sua casa, com cinco irmãos. Eles assistiram a uma sequência de desabamentos até que o tremor chegou perto. Ainda tiveram tempo de correr para fora, porém a casa só sofreu rachaduras. “Perdi uma prima, na época com 30 anos. Ela morreu no lugar onde trabalhava, seu corpo nunca foi encontrado”, lamenta.
Com ajuda de uma ONG do Haiti, pegou o avião para o Rio de Janeiro em fevereiro de 2010, com outros 10 estudantes. Ao chegar, se hospedaram em um hotel na Glória, zona Sul da cidade, e pouco depois ela já começava o curso de sete meses de português, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Gosto muito de estudar”, diz Marie Florence, cujo lazer preferido é ler livros sobre Tecnologia a atualidades. “Também gosto de documentários e filmes”, completa.
O que mais aprecia no Brasil é a hospitalidade e a alegria das pessoas, e considera a violência o pior defeito. “Já fui assaltada em Niterói. Levaram minha carteira, com CPF, meus cartões e R$ 200, mas isso já faz tempo”, desconversa.
Ao que parece, ela é o que os cariocas chamariam com senso de humor de “CDF”. Deve concluir a faculdade em 2016 e em março de 2015 começa o curso suplementar. Até hoje ainda não teve um namorado, o que não é de se estranhar, para quem raramente vai às baladas. “Minhas amigas nem me chamam mais”, brinca. Por sinal, ela conseguiu entrar na UFF graças a seu bem sucedido histórico escolar.
Antes de voltar definitivamente para o Haiti, Marie Florence quer visitar a família “para matar as saudades” e continuar a se dedicar ao máximo aos estudos. “Quero ajudar a fazer a diferença quando voltar de vez para lá”, sonha.
Texto: Celina Côrtes