Fresnel Joseph – Um haitiano fora da curva
Fresnel Joseph, nascido em Porto Príncipe, trabalha desde 2015 no projeto Haiti Aqui, do Viva Rio.
Fresnel Joseph chegou ao Brasil de uma forma diferente de seus pares. Em 2012, ganhou bolsa de uma ONG para pesquisar como os haitianos viviam em Manaus. Gostou e resolveu ficar. Na verdade, ele atravessou o terremoto de 2010 sem grandes traumas, a não ser pela perda de um tio que trabalhava como segurança em Porto Príncipe. Ou seja, o que o fez sair foi discordar da linha política adotada em seu país.
Nenel, como é chamado pelos amigos, 28 anos, levou cinco horas para chegar em casa logo após o abalo sísmico e ouviu dizer que todos tinham morrido no lugar onde vivia. Encontrou, porém, sua casa , mãe e três irmãs mais novas intactas, para sua alegria. Cursava o segundo ano da Faculdade de Administração e achou que era hora de largar o estudo quando conheceu o Brasil.
Da vida em Porto Príncipe, onde nasceu, não tinha muitas queixas. Sua mãe é proprietária de duas lojas, uma de alimentos e outra de material de construção. O pai é técnico em Geologia. O espírito de aventura, no entanto, falou mais forte. Já em Manaus, conseguiu tirar o visto de permanência e pouco depois se mudava para o Rio de Janeiro, onde veio encontrar amigos que já estavam estabelecidos e escolheu um condomínio em Jacarepaguá para morar.
O emprego de montador de eventos só durou dois meses. Sob a influência de amigos haitianos, mudou-se para São Paulo, onde foi trabalhar em uma empresa de operação de logística. “O salário não dava para pagar as contas”, lembra Fresnel com seu jeitão tímido, de poucas palavras. Ainda experimentou um curso de técnico em edificação e também não esquentou seu lugar como laboratorialista de solo.
Voltou a fazer as malas e retornou ao Rio de Janeiro em 2015, onde começou a trabalhar em maio como produtor de rádio no projeto Haiti Aqui, do Viva Rio. Já dá para perceber que se trata de um espírito meio cigano, que não costuma parar muito no mesmo lugar. Dessa vez, no entanto, ele se sente feliz. Trabalha na Glória e mora no Leme, bairros próximos, ambos na zona Sul. Nada mal para quem gosta de ir à praia nos fins der semanas na companhia dos amigos, haitianos e brasileiros.
O único problema são as saudades de casa, da família, da namorada que ficou no Haiti e volta e meia vem visitá-lo. “Temos um projeto de casar quando vierem os filhos. Ela tem visto para o Brasil e os Estados Unidos e prefere esse segundo país. E eu prefiro o Brasil, mas não posso decidir sozinho”, pondera.
Enquanto isso, toca a vida no novo trabalho, torce pelo Fluminense – gostava de jogar futebol mas parou depois de quebrar os dois pés, o esquerdo em 2003 e o direito em 2007 -, curte a praia e churrascos com os amigos. “Em São Paulo, sempre comia feijoada aos sábados. Ainda estou procurando a melhor opção para fazer o mesmo aqui no Rio”, diz. O futuro, só Deus sabe!
Texto: Celina Côrtes